A
pré-estréia acontece neste dia (29) às 20h30, na praça central da
cidade do Congo, numa promoção da prefeitura local que apoiou o
projeto. O enredo, adaptado para um curta-metragem de aproximadamente 20
minutos, é um drama existencial de um homem do campo fascinado pelo
mistério do mundo e sua grandeza, que o arrasta a inúmeros exílios
voluntários. Filmado no Congo, no Cariri paraibano, A poeira dos
pequenos segredos é um projeto do produtor Heleno Bernardo patrocinado
pelo Fundo Municipal de Cultura (FMC) com roteiro e direção de Bertrand
Lira que estréia na ficção depois de uma longa carreira em
documentários.
Santiago (Nanego Lira) vive isolado do mundo com sua companheira
Otília (Verônica Sousa) que não entende essas suas idas e vindas cada
vez mais freqüentes. O filme aborda questões universais, com as ações
marcadas pela sutileza de olhares e pequenos gestos, discutindo a
relação do homem com o seu meio, seus conflitos existenciais e o
imaginário que ele constrói do mundo que existe além dos limites de seu
habitat.
O conto homônimo de Geraldo Maciel encontra-se no livro “Inventário
de pequenas paixões” que reúne 19 contos do escritor paraibano publicado
em 2000 pela editora Ideia. Paraibano de Nova Palmeira, Maciel era
professor do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade
Federal da Paraíba. Ele publicou seu primeiro livro (“Aquelas criaturas
tão estranhas”) em 1995 pela editora Rio Fundo do Rio de Janeiro. O
talento de Maciel teve reconhecimento imediato com a publicação de
apenas duas obras. Escritores como Sérgio de Castro Pinto, Hidelberto
Barbosa Filho e Bernardo Ajzenberg escreveram sobre seu “universo
ficcional de rara beleza e espantosa coerência de estilo.”
A adaptação do conto numa peça audiovisual transmuta, em sons e
imagens, a delicadeza do universo construído por Maciel na sua escrita. É
uma forma de homenagear o autor _ que em apenas duas obras deixou uma
inestimável contribuição para a nossa literatura. A Paraíba abriga uma
leva de autores literários, reconhecida pela crítica especializada, mas
quase _ ou totalmente _ desconhecidos do grande público, sobretudo dos
estudantes de primeiro e segundo graus. ”A adaptação de obras desses
autores para o cinema constitui uma alternativa para a difusão da
literatura paraibana com a perspectiva de alcance de um público bem mais
amplo”, justifica Bertrand.
Nessa sua primeira empreitada na ficção, Bertrand Lira reuniu um
grupo de profissionais e amigos No elenco, Verônica Sousa e Nanego Lira,
que vivem os dois únicos personagens do enredo. A produção é de Heleno
Bernardo, parceiro nos documentários Álbuns da memória, Crias da
Piollin, O rebeliado e O diário de Márcia. A fotografia é de João Carlos
Beltrão, o som de Bruno de Sales, edição e finalização de Ely Marques;
desenho de som de Débora Opolski (Tropa de Elite, Ensaios sobre a
cegueira, Cidade dos Homens, entre outros) e trilha sonora original de
Débora Opolski, Guilherme Romanelli e Luís Bourscheidt. A cenografia,
direção de arte e figurino é de Zeno Zanardi e assistência de direção de
Cristiana Fragoso. A produção local foi de José Dhiones Nunes, o
criador e coordenador do Cine Congo – Festival de cinema de
curtas-metragens da cidade.
Na realização deste curta-metragem, foi utilizada quase que 100% da
mão-de-obra local, mantendo e ampliando, desta forma, o espaço para o
exercício didático-pedagógico com atores, diretores, produtores e
técnicos de todos os domínios de uma produção audiovisual, da fotografia
e o som, passando pela arte, figurino, edição, até a finalização. Para
Heleno Bernardo, proponente do projeto junto ao FMC, “esta é uma forma
de contribuir para a construção de um pólo de produção audiovisual no
estado, reconhecido no país como um celeiro de talentos desde a
realização de Aruanda, filme-marco na cinematografia brasileira”.